ESPERAR...
A gente espera...
Na fila do banco,
Na fila do médico,
Na fila de emprego...
Mas emprego não tem.
A gente espera...
Pede atendimento,
Nas imensas filas da vida...
Da vida que mata o tempo da gente.
A gente espera...
Para falar com o gerente
Que rouba nosso tempo,
Que arranja desculpas,
Que mata a esperança
E não se comove.
O tempo que é meu
Foge e se esvai...
Nas horas que perco
Na fila esperando.
Depois tudo segue...
Imutável rotina!
Até quando?
MOMENTOS
Há momentos na vida...
Que vem e vão.
Como água a escorrer no chão.
Eles passam, nada acrescentam.
Há momentos vagos, incertos...
Pequenas nuvens que os olhos cobrem
De lágrimas, até nos comovem.
Mas passam, ficando apenas mágoas.
Há momentos valiosos, instantâneos...
Em que a alma recebe asas.
O coração se aquece como brasa.
Esses sim... perduram eternamente.
ÁRVORE
Arvorei meus sonhos...
Na árvore do jardim da vida
Que nasce, cresce e envelhece.
Cada árvore que cai...
É um sonho que se vai.
A morte carrega...
E ao solo entrega.
A vida segue
A natureza padece.
A vida emudece.
Não há cantigas,
Nem passarinhos...
Ausência total de ninhos.
Árvore perdendo espaço,
Suspirando pelo abraço
Da floresta que chora,
Enquanto a luz que arvora
Não pode fazer sua hora.
Plantem árvores!
Espalhem flores!.
Com sementes de cantigas
Na terra que sustenta a vida.
RETRATOS
Na estante
Os retratos me olham...
Retalhos de uma época que se foi.
Meus filhos ainda crianças
Fazendo caretas,
Rindo e brincando...
Ah, se eu pudesse abrir
A gaveta das lembranças
E fazer o tempo retornar!
Ah, se eu pudesse
Prender o tempo nos sorrisos
Nas palavras inocentes
Nas mil brincadeiras
Que parecem saltar dos retratos!
Desejo inútil...
Eles cresceram
E não há como mudar isso.
Só me resta guardar
No porta-retrato da alma
Estilhaços da infância
Fragmentos da meninice
Vestidos de saudades
E lágrimas.